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A atual pandemia de Covid-19 e a crise de oferta e demanda têm imposto, diariamente, novos desafios à indústria de óleo e gás. São novas formas de lidar com os funcionários, de interagir com o ambiente de trabalho e de operar as atividades, o que influencia diretamente a Segurança, o Meio Ambiente e a Saúde (SMS) como são conhecidos hoje.

Confira a entrevista de Carlos Victal, Gerente de Sustentabilidade do IBP, sobre os impactos que o momento atual – pelo qual passa não apenas o setor, mas a sociedade – pode trazer para os investimentos das empresas, bem como para a programação de responsabilidade social da Rio Oil & Gas, que estará concentrada na Arena de Sustentabilidade.

1.Quais impactos a atual crise de oferta e demanda e a Covid-19 poderiam trazer para os investimentos nos objetivos do desenvolvimento sustentável?

CV: Posso afirmar que a crise provocada pela Covid-19 ou pela oferta e demanda de petróleo e derivados já está orientando as empresas no direcionamento de seus investimentos em responsabilidade social ou desenvolvimento sustentável. Recentemente, a letra “E” de “Economic” foi adicionada à sigla “ESG”, que significa “Environment, Social and Governance”. O “ESG” já vinha sendo o principal instrumento balizador das empresas para elaboração de seus relatórios financeiros e de sustentabilidade, pois são as partes preferidas dos fundos de investimentos. Agora, o “EESG” torna ainda mais claro o olhar dos mercados de capitais para as questões ambientais, sociais e de governança dos empreendimentos, no sentido de querer uma sociedade economicamente resiliente.

Nesse sentido, as empresas têm hoje a vantagem de contar com a Agenda 2030 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), para saber para onde direcionar seus investimentos. Se as empresas buscavam escolher um ou dois ou três dos ODS, essa pandemia mostrou o quanto todos os 17 ODSs estão interligados e devem ser considerados de forma associada. Quem diria que as empresas teriam que investir tanto dinheiro no ODS 3 (Saúde). Se, antes, os tradicionais ODS 4 (Educação), 5 (Equidade), 13 (Mudanças Climáticas), 14 (Vida na Água) eram importantes para o setor de petróleo e gás, que dirá agora os ODS 8 (Trabalho e Crescimento Econômico), ODS 9 (Indústria, Inovação e Infraestrutura) e ODS 11 (cidades e comunidades sustentáveis). E todo investimento agora irá impactar nos demais ODS (1, 2, 6, 7, 10, 12, 15, 16 e 17). Portanto essas crises não irão impactar os investimentos em desenvolvimentos sustentável, vão é mostrar o caminho que esses investimentos precisam tomar para que sejam mais efetivos e eficazes e, aí sim mitiguem os futuros impactos de novas pandemias e suas consequências colaterais.

 

2. Refletindo as demandas do setor, a Rio Oil & Gas traz novas pautas a cada edição. Em 2018, abordou a diversidade na indústria, por exemplo, e as tecnologias digitais. O que não poderia faltar na pauta da Rio Oil & Gas 2020 do ponto de vista da responsabilidade social?

CV: O compromisso com o combate às mudanças climáticas. Os esforços feitos pelo IBP nos últimos anos em relação à transição energética, adaptação, precificação de carbono, eficiência energética e migração para uma economia de baixo carbono irão se refletir em ações concretas na Rio Oil and Gas 2020. E a principal ação será o cálculo do inventário de emissões de gases de efeito estufa do evento e a sua neutralização. Como legado para próxima Rio Oil and Gas, esta iniciativa deixará uma linha de base a partir da qual mudanças deverão ser realizadas para que as emissões do evento sejam ainda menores. Outros temas como os ODS, Direitos Humanos, Diversidade de Gênero (LGBTQIA+), Segurança, Meio Ambiente e Saúde – principalmente este último – terão destaque especial na área de Responsabilidade Social da Rio Oil and Gas 2020.

 

3. Temos visto muitas respostas ao novo coronavírus por parte das empresas de O&G. Como a atual pandemia pode influenciar ou transformar os aspectos de SMS como conhecemos?

CV: As mudanças estão em curso. É tudo muito novo para todos e, certamente, as empresas de de óleo e gás terão que mudar seus protocolos, seja na entrada em uma instalação, seja no embarque/desembarque de uma plataforma, nos escritórios e até mesmo nos refeitórios. Outro ponto importante será a saúde mental das pessoas. A afirmação de que o home-office veio para ficar já está causando o estresse mental em muitas pessoas, sem contar com a fadiga com os afazeres de casa e a sensação de ter que estar disponível 24 horas por dia, 07 dias por semana. Não podemos esquecer que as pessoas também terão que mudar seus hábitos. A falta de cuidado com a saúde, que coloca uma pessoa no chamado “grupo de risco”, passará a ser observado com maior atenção pelas equipes de RH. Se, antes, SMS era uma questão também de cultura da pessoa, uma questão de liderança, agora passa a ser uma questão comportamental do indivíduo e uma questão de responsabilidade de cada um.

Por fim e não menos importante, serão os deslocamentos, sobretudo o internacional. Enquanto não surgir um antídoto definitivo para o novo coronavírus, as empresas precisarão monitorar de perto a situação de cada país ou região, não só em relação à contaminação, mas porque pode haver o fechamento de uma fronteira ou restrição similar. E um impacto dessa questão é na atividade de preparação e resposta ao derramamento de petróleo. As empresas de “Oil Spill”, como são chamadas, são empresas globais e precisam ter acordos com os países produtores offshore para que equipamentos e produtos de resposta a emergência possam sair de um local onde está estocado e chegarem a outra região do mundo onde são necessários de forma urgente, naquele momento. As regras trabalhistas internacionais e nacionais também precisarão se adaptar para essa nova realidade, contribuindo ainda mais para o aumento da empregabilidade, sem flexibilizar as conquistas primordiais de segurança e saúde do trabalhador.