“A violência contra a mulher é um mal invisível e acontece com muita frequência e tem impacto econômico, na produtividade e na vida laboral das profissionais”. O alerta é da presidente da Comissão da Mulher da Associação Brasileira de Advogados do Rio de Janeiro, Julia Kerr. A advogada foi a palestrante de um encontro promovido pelo Instituto de Petróleo e Gás (IBP) sobre o impacto econômico da violência contra a mulher no setor. O evento, realizado nessa terça-feira (25.10) na sede do IBP, contou com a moderação da diretora-executiva corporativa do Instituto, Fernanda Delgado. Também participaram da conversa a diretora-geral do Senado, Ilana Trombka, a vice-presidente da Equinor, Ana Serrano Oñate, e a coordenadora do Tratamento de Denúncias de Violência da Ouvidaria da Petrobras, Natalie Andrade.
Julia Kerr destacou que boa parte das agressões acontecem no ambiente doméstico, mas o impacto no espaço de trabalho é direto. Segundo a advogada, é muito comum que vítimas de violência doméstica tenham problema de memória e de concentração, baixa autoestima e dificuldades de tomar decisões, por exemplo. Ela ainda citou estimativas que apontam que essas mulheres perdem em média 18 dias de trabalho por ano. “Muitas mulheres não denunciam as agressões porque se sentem envergonhadas ou temem ser desacreditadas”, avalia.
A diretora-executiva corporativa do IBP, Fernanda Delgado, reforçou a importância de fomentar o debate de gênero no setor. “A violência contra mulher tem impacto na economia”, analisa a diretora. Ela citou uma pesquisa feita pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais que estima que o PIB brasileiro teria um incremento de R$ 214 bilhões, no período de uma década, caso a violência contra as mulheres acabasse. De acordo com o estudo, este é o valor que o país movimentaria sem o afastamento das vítimas do mercado de trabalho, considerando a massa salarial e a arrecadação geradas por elas.
Só no primeiro semestre de 2022, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos registrou 31.398 denúncias de violência doméstica. A advogada lembrou, no entanto, que há subnotificação e, além da agressão física, as mulheres ainda sofrem com a violência simbólica. “Muito do que acontece hoje é resquício do que aconteceu ao longo do tempo: a mulher foi considerada menos capaz que os homens”, concluiu.
Para a diretora-geral do Senado, Ilana Trombka, emancipar as vítimas é fundamental para quebrar o ciclo de agressões e a renda própria é crucial para isso. Ela falou sobre o projeto de cotas, no quadro de terceirizados da instituição, voltado para mulheres que sofreram violência. A iniciativa já beneficia 60 colaboradoras que estão tendo a chance de recomeçar a vida sem depender mais dos agressores. “É um ganha-ganha: elas ganharam o direito de ter um trabalho e a organização ganhou a oportunidade de refletir a respeito dessas questões”, avalia Ilana.
Para a vice-presidente da Equinor, Ana Serrano Oñate, outro grande desafio é combater a mentalidade discriminatória herdada na educação de meninos e meninas. A executiva destacou a importância dos programas de desenvolvimento de liderança e a necessidade de superar o falso dilema entre maternidade e carreira. “Ter um filho é uma responsabilidade da sociedade e não só da mulher. Se não houver mais filhos, a sociedade morre”, analisou. Por fim, a diretora-executiva do IBP, Fernanda Delgado, lembrou que a igualdade de gênero é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
Assista a seguir a transmissão do evento: