Na terceira edição do Ciclo de Debates sobre Petróleo e Economia de 2017, o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) debateu os desafios do descomissionamento para a competitividade de projetos petrolíferos no Brasil. O tema é abordado no momento em que bacias marítimas brasileiras atingiram sua maturidade exploratória, sendo que a Bacia de Campos, a principal bacia produtora do país, atingiu seu pico de produção em 2009. Além disso, o avanço da exploração de reservas de petróleo e gás levanta questionamentos quanto ao final da vida útil de um projeto e ao descomissionamento das estruturas utilizadas.
“O momento não poderia ser mais atual, no Brasil e no mundo, e apropriado para falar de descomissionamento, que é uma etapa do processo de desenvolvimento do petróleo. Uma etapa, aliás, que pode vir a acontecer depois de 30 ou até 40 anos, exigindo um planejamento, uma execução e uma análise socioeconômica e ambiental bem feitas”, disse Antonio Guimarães, Secretário Executivo de E&P do IBP. “Que esse debate seja o início para que, juntos, possamos construir aquilo que será o entendimento de melhores práticas da indústria no que se refere ao descomissionamento”, complementou.
Edmar Almeida, professor do Grupo de Economia da Energia (GEE) do IE/UFRJ, apresentando estudo elaborado junto ao IBP, apontou estimativas da empresa de consultoria IHS Markit. Segundo as quais, os gastos globais por ano com descomissionamento offshore devem mais que quadruplicar, até 2040, e o montante total dispendido pode atingir US$ 210 bilhões, nos próximos 25 anos. De acordo com Marcelo Mafra, superintendente de Segurança Operacional e Meio Ambiente da ANP, 42% das instalações offshore de produção existentes no Brasil hoje estão em operação há mais de 25 anos.
O contexto do descomissionamento no Brasil é desafiador devido ao perfil das plataformas brasileiras, caracterizado por uma participação relevante de estruturas mais complexas – do total das plataformas no país, 57% são unidades fixas, 24% são do tipo FPSO, 14% são semi-submersíveis e 5% de outros tipos. Outro desafio está na localização dessas plataformas – 17% das plataformas encontram-se em águas profundas acima de 400 metros e 25% em lâmina d’água maior que mil metros.
“As exigências sociais e ambientais do descomissionamento evoluem de acordo com o avanço tecnológico e também com a complexidade dos projetos. A presença de campos de grande complexidade tecnológica aumenta o desafio”, afirmou Edmar de Almeida, professor do Grupo de Economia da Energia (GEE) do IE/UFRJ. “O Brasil não irá encontrar exemplos vindos de fora. Da mesma forma que fomos pioneiros na inovação tecnológica para produção offshore, vamos liderar esse processo”, concluiu.
Ainda que os desafios sejam muitos e a regulação brasileira deixe lacunas sobre quais sejam as melhores práticas, Eduardo Zacaron, gerente de descomissionamento da Petrobras, acredita que já existe tecnologia e benchmark internacional que nos torna hábeis para descomissionar alguns tipos de equipamentos. “O descomissionamento de poços, plataformas e sistemas submarinos tem cronogramas diferentes e podem ser avaliados separadamente”, disse o executivo da empresa operadora da maioria das plataformas a serem descomissionadas em breve no Brasil. “Os altos custos de descomissionamento, porém, podem inviabilizar novos projetos em campos maduros”, disse.
“O desafio de hoje está no descomissionamento das plataformas fixas, mas precisamos nos preparar para os desafios do amanhã, que serão as plataformas flutuantes e que estarão em locais diferentes de onde estão as fixas atualmente”, explicou Jean-David Caprace, diretor técnico da Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (SOBENA).
Bruno Graffino, analista ambiental do Ibama, esclareceu mitos e verdades sobre a Avaliação de Impactos Ambientais para o descomissionamento no Brasil. Segundo ele, o tempo para a correta análise dos projetos é fundamental e o quanto antes o contato com o órgão ambiental for iniciado, melhor. Além disso, Graffino reforçou que o Ibama está sempre aberto ao diálogo com as empresas.
“A avaliação dos impactos ambientais deve considerar não apenas o meio ambiente, mas também todo o ciclo de vida do descomissionamento. Estes reflexos, por exemplo, devem ser comparados com aspectos econômicos e sociais para cada opção a fim de contrapor os impactos ambientais líquidos com os custos econômicos e sociais”, esclareceu Graffino.
Confira a agenda 2017 do Ciclo de Debates sobre Petróleo e Economia.