Projeto de lei sobre o tema tramita no Senado; mercados regulados de carbono já geram receitas de US$ 75 bilhões ao ano globalmente, segundo a consultoria Catavento
Um importante estímulo para a promoção de iniciativas de descarbonização de empresas e para o atingimento de metas de redução de emissões do país é o mercado de carbono, que, no Brasil, ainda não está regulado.
Para Maria Izabel Ramos, gerente de Mercados de Carbono da Petrobras, é essencial acelerar a regulamentação do mercado de carbono pelo poder legislativo, com projeto que está em tramitação no Senado. “Há uma janela parlamentar pequena, em virtude da eleição municipal de 2024, para votação do projeto de lei no Senado”, ressaltou a executivo no painel “Riscos e Oportunidades do Mercado Regulado de Carbono no Brasil”, nesta terça (28) no ESG Energia & Negócios, organizado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP).
Tamara Fain, sócia da Catavento Consultoria, destaca que países com legislação clara e definida já geram cerca de US$ 75 bilhões anualmente com seus sistemas de comércio de emissões com gerenciamento de órgão regulador e transações entre empresas. É ainda mais premente para o Brasil regulamentar esse mercado, segundo Fain, diante do fato de a União Europeia querer taxar produtos de países a partir do parâmetro do seu próprio mercado de carbono, o que afetará o custo de bens e serviços brasileiros.
Marina Westrupp Alacon Rayis, coordenadora de Sustentabilidade do Grupo Ultra, e Jeronimo Roveda, diretor da Aliança Brasil NBS, concordam que a ausência de regulamentação gera insegurança jurídica. Eles defendem que repasses de custos do carbono ao consumidor final, com método similar ao Uruguai, não devem ser implementados no Brasil.
Seguros e mudanças climáticas
O mercado de seguros está em transformação para atender novas demandas e necessidades da agenda ESG. Esse cenário foi mostrado em painel da manhã do segundo dia do ESG Energia e Negócios.
O Subsecretário de Planejamento de Longo Prazo do Ministério do Planejamento e Orçamento, André Luiz Campos de Andrade, mostrou como eventos climáticos vêm impactando a forma de proteção dos ativos. “Conhecer o cenário que estamos pisando, como estaremos reparando o país, estados e empresas é fundamental e precisa ser feito de maneira conjunta”.
Fernando Prado, CCO da Galcorr Seguros, enfatizou que a precificação dos seguros e a necessidade da atenção a agenda ESG está mudando devido às ocorrências climáticas. Prado destacou que muitas seguradoras recusam atender empresas que não adotam práticas ESG. “Hoje na operação do mercado o ESG deixou de ser um adicional. Se não tiver pauta ESG não segura”.
Campos maduros e o ESG
A produção de campos maduros continua estratégica para o setor de óleo e gás brasileiro e cumpre importante papel para o desenvolvimento regional. Para Telmo Ghiorzi, presidente-executivo da Abespetro, um dos grandes desafios da indústria é tornar esses ativos produtivos. “Temos 600 mil empregos diretos e indiretos na cadeia produtiva como um todo. Estes últimos são fortemente afetados pelos campos maduros e estratégicos para os fornecedores”, ressaltou no painel sobre a revitalização de campos maduros.
A Petrobras mostrou que a Bacia de Campos é um ativo ainda muito valioso em seu portfólio e que conta com a previsão de investimentos de US$ 22 bilhões e 135 novos poços, segundo seu Plano Estratégico. O Gerente Geral de Concepção de Projetos de Águas Profundas da companhia, Denis Krambeck Dinelli, confirmou a estratégia. “Nos últimos 3,5 anos colocamos 47 novos poços em operação na Bacia de Campos. Produzimos cerca de 200 mil barris/dia em 2023.”
O presidente do IBP, Roberto Ardenghy, ressaltou, no encerramento do evento, a geração de conhecimento durantes os debates e os desafios e responsabilidades que o setor tem pela frente na jornada ESG – em temas como mercados de carbono, mitigação de emissões e uma transação energética justa e inclusiva.
A 2ª Edição do ESG Energia e Negócios consolidou o sucesso da última edição, com mais de 900 participantes de 14 estados brasileiros durante os dois dias de debates. O evento reuniu um público majoritariamente feminino, com 61% do total, e participantes em grande parte na faixa etária de 31 a 50 anos, sendo cerca de 60% destes profissionais ocupantes de cargos de gestão na indústria. Ao todo foram mais de 30 horas de conteúdo, com salas cheias e engajamento do público nos debates.
Organizado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), o ESG Energia e Negócios é patrocinado pela Petrobras, Equinor, ExxonMobil, Ipiranga, RepsolSinopec, Shell, Transpetro, Karoon Energy, Naturgy, OceanPact, Ocyan, SLB One Subsea, Shape e Subsea7.