Na perspectiva de transição energética para uma economia global de baixo carbono, a gestão das emissões do dióxido de carbono (CO₂) traz grandes desafios para a sociedade e, em particular, para a indústria de óleo e gás. As respostas inovadoras e de desenvolvimento tecnológico que majors do setor e a academia já apresentam são alguns temas que o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) quer debater em seu “Fórum Online de CO₂”, que teve estreia nesta terça-feira (20.10), às 18h.
Serão seis webinars semanais até 24 de novembro, todas às terças feiras, às 18h, com especialistas nacionais e internacionais, em painéis que abordarão inovação, tendências sustentáveis, estudos e soluções tecnológicas em torno das mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global oriundo das emissões atmosféricas, inclusive transformando o CO₂ em outros usos, como nova fonte de energia elétrica.
O primeiro webinar do “Fórum de CO₂” girou em torno da gestão de emissões e dos desafios tecnológicos que precisam ser enfrentados para permitir a ampliação e competitividade dos processos de CCUS (sigla em inglês para Captura, Uso e Armazenamento de Carbono) e a sua efetiva contribuição como elemento-chave para o desenvolvimento sustentável e a meta estabelecida no Acordo de Paris de limitar o aumento médio do aquecimento global em 2ºC. Com moderação de Pietro Mendes, assessor do diretor-geral da ANP, participaram do painel Viviana Coelho, gerente corporativa de Emissões, Eficiência Energética e Transição para Baixo Carbono da Petrobras; e Támara García, gerente de P&D da Repsol Sinopec.
Na apresentação, Pietro Mendes contextualizou a relevância do tema. “Essa discussão é parte essencial de um amplo conjunto de soluções necessárias para desenvolver sistemas industriais e de geração de energia mais sustentáveis, em direção à transição para uma economia de baixo carbono alinhada com as metas do Acordo de Paris. A Agência Internacional de Energia projeta a necessidade de ampliação da escala global dos CCUS, das atuais 40 milhões de toneladas de CO₂ equivalente por ano, para 2,8 bilhões até 2050”.
Ele lembrou que o processo também terá importantes impactos socioeconômicos. Mas diversos desafios terão que ser enfrentados para o avanço dessa indústria, que tende a ganhar escala e credibilidade: “É o caso de redução de custos tecnológicos, capacitação e desenvolvimento de fornecedores e apoio à infraestrutura, facilitação na criação de hubs em áreas industriais, políticas de incentivo e marcos regulatórios que ofereçam segurança aos atores envolvidos, desenvolvimento de mercado para produtos premium (de baixo carbono)”, elencou Mendes.
Viviana Coelho, da Petrobras, fez sua apresentação a partir de projetos e ações de descarbonização das atividades da própria estatal, que se dividem nos pilares de transparência (carbono quantificado nos processos críticos); resiliência dos combustíveis fósseis na transição energética, garantindo segurança ao crescimento da demanda; e fortalecimento das competências para criar valor nos novos negócios que farão parte da transição para uma economia de baixo carbono. Ela citou que boa parte das informações estão disponíveis no documento público “Caderno de mudança do clima”, e que as premissas estão alinhadas com as metas do Acordo de Paris. “No nosso entendimento, as empresas serão tão mais competitivas para o mercado de longo prazo quando forem capazes de produzir com baixos custos e menor emissão de gases de efeito estufa (GEE), prosperando em cenários de baixo preço de petróleo, precificação de carbono e possíveis práticas de diferenciação do petróleo em função de sua intensidade de carbono na produção”, exemplificou, destacando que a Petrobras hoje possui um diferencial positivo em suas reservas de petróleo e gás.
Ela listou dez compromissos assumidos pela empresa, entre os quais o de reduzir emissões absolutas em atividades operacionais, de E&P e refino até 2025, de zerar a queima de rotina em flair até 2030, e metas de reinjeção de CO₂ em projetos de CCUS (40 MM de ton até 2025). As medidas de eficiência também se estendem aos projetos de geração elétrica da Petrobras, essencialmente a gás natural. “Nosso foco atual é de descarbonização de nossas operações, na inovação e na aquisição de competências que poderão permitir uma futura diversificação em renováveis, aumentando nossa competitividade para capturar oportunidades numa perspectiva de longo prazo”, afirmou.
Gerente de P&D da Repsol Sinopec, Támara García mostrou a posição da empresa no contexto global de transição energética e mudança climática, com operações em 37 países (no Brasil, atua basicamente em E&P e lubrificantes). Foi a primeira major do setor de O&G a assumir a meta de zerar suas emissões de CO₂ até 2050 – a um custo de US$ 5,3 bilhões – e a lançar um bônus “verde” para financiar projetos de eficiência energética e tecnologias de baixa emissão de gases. “A indústria do petróleo tem um papel vital nessa transição e um duplo desafio: atender à demanda de energia e, ao mesmo tempo, reduzir emissões diretas e indiretas, incluindo sua cadeia produtiva”.
García lembrou que existe uma vasta gama de abordagens e tecnologias para isso, desde aumentar a participação do gás natural na matriz até diversificar o portifolio de ativos das empresas entre renováveis (hoje geração solar e eólica são maioria, mas outras fontes vêm ganhando espaço, como hidrogênio), passando pela gestão de projetos de CCUS – uma área com imensas oportunidades, que deve responder por até 9% da queda de emissões até 2050, segundo estudo recente da AIE – e outras. “Os principais drivers e desafios de adaptação à transição energética chaves são inovação tecnológica, viabilidade econômica e de custos, e regulação governamental”.
Em sua reflexão final, a representante da Petrobras reforçou que a empresa tem compromisso com a transparência de suas ações, que a inovação é fator chave nessa discussão, que todas as alavancas tecnológicas devem estar disponíveis para a sociedade, e que o Brasil apresenta um perfil único, devido à sua matriz energética majoritariamente de base renovável, com oportunidades e desafios particulares.
O próximo webinar do “Fórum de CO₂” do IBP, em 27 de outubro, abordará o tema “Os desafios tecnológicos da captura de CO₂”. A inscrição é gratuita e a programação completa está disponível aqui.