Durante a 10ª edição do Seminário de Responsabilidade Social e Segurança, Meio Ambiente e Saúde (SMS), realizado pelo IBP nos dias 9 e 10 de novembro, importantes temas para a retomada do crescimento da indústria de petróleo, como sustentabilidade, gerenciamento de risco operacional, licenciamento ambiental e avaliação ambiental estratégica, foram apresentados e debatidos por especialistas do setor. Para Antonio Guimarães, secretário-executivo de E&P do IBP, esse tipo de discussão é fundamental para o país.
“Somos um dos maiores produtores de petróleo do mundo e o país com maior potencial de exploração, mas esse potencial precisa ser explorado de forma sustentável”, disse Guimarães. “A indústria tem as melhores práticas internacionais e o IBP tem o papel de difundir esse conhecimento. Nesse sentido, em conjunto com a ANP, lançamos o primeiro manual de boas práticas para o setor, um manual sobre abandono de poços, que é vivo e deve ser constantemente atualizado”, completou.
A relevância do tema se mostra em números. De acordo com Evandro La Macchia, pesquisador e professor, mais de 50% do consumo mundial de energia primária vem da indústria de petróleo e o mercado brasileiro segue a tendência – a oferta de energia no país vem de fontes não-renováveis (56,3%). “Isso quer dizer que o que transporta, ilumina, aquece e resfria a sociedade global, incluindo o Brasil, vem da indústria do petróleo. Essa matriz se consolidou ao longo dos últimos 100 anos e não mudará de uma hora para a outra”, afirmou.
Para Marcelo Mafra, representante da Área de Segurança Operacional e Meio Ambiente da ANP, o setor de óleo e gás brasileiro já coexiste positivamente com o meio ambiente. “A indústria é verde, sim. Estamos desenvolvendo tecnologias, a cultura de sustentabilidade faz parte do nosso setor e, felizmente, esse é um caminho sem volta. A agência acredita nesse caminho”, explicou.
Ainda que os desafios à frente sejam grandes, alguns já vêm sendo endereçados pelos órgãos responsáveis. La Macchia aponta como principal incentivo à responsabilidade social a presença de novos operadores para a criação de uma indústria mais inclusiva e plural. “O Ministério de Minas e Energia e a ANP já estão fazendo esforços nesse sentido, mas as iniciativas com maior capacidade de fortalecimento da indústria vêm da Petrobras, com seu plano de desinvestimento que coloca à venda 99 campos e cria a possibilidade de inserir até 25 novas operadoras no país”, disse.
O final do primeiro dia reforçou a necessidade de alinhamento entre o que a indústria de petróleo e gás vem fazendo em favor do desenvolvimento sustentável e a Agenda 2030 dos ODS, publicada pela ONU em 2015. A Agenda tem 17 objetivos, que se desdobram em 169 metas. Por isso, o setor precisa definir suas prioridades e fortalecer parcerias com organizações da sociedade civil, sem deixar ninguém para trás, destacaram Maurício Blanco, do Instituto Afortiori, e Andrea Gomide, do Instituto Ekloos. Dilma Pimental, da Consultoria Otimiza, chamou atenção para o ODS 12 sobre “Consumo Sustentável”, que está inter-relacionado aos demais 16 ODSs.
Dois momentos marcantes do evento foram as apresentações dos projetos sócio educacionais em parceria com Instituto Reação, do medalhista Olímpico Flávio Canto, e com o Instituto Rogério Steinberg (IRS), voltado para crianças superdotadas; e a apresentação dos resultados do primeiro projeto setorial de voluntariado de petróleo e gás, promovido pelo IBP, em parceria com a Junior Achievement e a Secretaria de Educação do Rio de Janeiro, que reuniu 85 voluntários de 11 empresas do setor, mais o IBP e que ao longo de dois meses, incentivaram mais de mil alunos da rede pública de ensino a permanecerem estudando, através de suas próprias experiências de vida.
Para atuar de forma sustentável e gerenciar os riscos, Luiz Fernando Oliveira, presidente da ABRISCO (Associação Brasileira de Análise de Risco, Segurança de Processos e Confiabilidade), explica que a segurança operacional e de processo consistem em trabalhar dentro do limite de risco aceitável, definido pela sociedade. “Não existe risco zero e não estamos falando apenas da indústria do petróleo – o risco está no dia-a-dia. O importante é saber que o nível de risco é estabelecido já na fase de projeto e perpetuado na fase operacional. Isso porque é mais fácil mudar quando ainda se tem papel. Depois que vira aço e concreto fica mais difícil”, afirmou.
No painel sobre licenciamento ambiental offshore, Gerhard Peters, da IAGC (International Association of Geophysical Contractors), Daniele Lomba, da Petrobras, e Sebastião Cavalari, da Shell, tiveram o desafio de olhar para as lições aprendidas nos últimos 20 anos a fim de apresentar os desafios futuros. “A licença ambiental é um contrato entre a empresa de sísmica e a operadora com a sociedade, que tem o IBAMA como intermediador”, definiu Cavalari.
Para Daniele Lomba, as questões ambientais atraem muita atenção no Brasil, que é associado a causas ambientais no mundo e é constantemente monitorado por grupos ambientais e ONGs. “Isso significa que todo grande projeto é submetido a intensa avaliação por parte da sociedade e dos órgãos reguladores”, explicou.
Uma das soluções apresentadas por Gerhard Peters para dar maior celeridade aos processos de licenciamento é a criação de um banco de dados. “Áreas próximas apresentam estudos similares e o banco de dados cria uma espécie de biblioteca de informações, permitindo que o órgão licenciador olhe para o que é realmente pertinente. Além de abrir possibilidades para otimização na atualização dos dados armazenados através de novos levantamentos de campo”, disse.
Ampliando a discussão, o Seminário de Responsabilidade Social e SMS do IBP apresentou ainda o poder e a influência das redes sociais na difusão de informações e na construção da reputação. “Estamos em um momento de muitas mudanças, mas que também abre portas para inúmeros desafios e oportunidades fantásticas e extraordinárias. A reputação está diretamente ligada à transparência”, explicou Michel Lent Schwartzman, fundador da startup Lent/AG.
O ambiente digital também exige responsabilidade, como foi lembrado por Pedro Doria, editor da newsletter Meio. “A tecnologia já influencia as mais diversas áreas, como a política. E é preciso que a gente entenda como a tecnologia funciona, sem esquecer a responsabilidade de cada um e também de cada empresa no uso das palavras e seus significados, por exemplo”.
Para Risoletta Miranda, diretora de inovação da FSB Comunicação, é preciso cuidado para tratar a transparência e a reputação em um mundo cada vez mais aberto. “A imagem, seja ela individual ou corporativa, é vendida diariamente com a forma como você ou a sua marca se expõe”, afirmou.
Os aspectos jurídicos das atividades de petróleo e gás, a necessidade de prevenção e redução de riscos a desastres, a preocupação com segurança das pessoas e do patrimônio das empresas e a avaliação ambiental de áreas sedimentar, fecharam o evento no segundo dia fazendo a correlação da área de SMS e Responsabilidade Social.
O evento foi patrocinado pela Petrobras, Statoil, Repsol Sinopec, Trench Rossi Watanabe Advogados, Odebrecht Oil & Gas, Prumo Logística, Queiroz Galvão Exploração e Produção e ABRISCO.