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As mudanças vividas pela indústria do petróleo nos últimos anos forçaram a adequação dos agentes do setor para um cenário lower for longer e, possivelmente, lower forever. O baixo preço do barril de petróleo obrigou o setor a buscar alternativas para redução de custos, visando otimizar a produção e aumentar a competitividade. Nesse contexto, a inovação ganha importância ainda maior como vetor de redução de custos. No caso brasileiro, o adequado emprego dos recursos oriundos da cláusula de PD&I, bem como de outras fontes destinadas a pesquisa e desenvolvimento para o setor de petróleo e gás, constituem uma oportunidade de assegurar a competitividade e garantir a produção futura dos ativos disponíveis no país.

Esse foi o principal tema debatido durante o quarto e último Ciclo de Debates sobre Petróleo e Economia de 2017, realizado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP). “Não é um momento só de transição energética, mas também da entrada de novas tecnologias de forma muito mais rápida do que se imaginava. A robótica, a inteligência artificial e o big data já fazem parte da indústria de petróleo”, disse Helder Queiroz, professor do Instituto de Economia do Grupo de Economia da Energia da UFRJ (GEE/UFRJ).

Para Queiroz, o impacto dessas tecnologias no upstream, por exemplo, vai desde a gestão inteligente de sistemas complexos por meio da análise de dados até a ampliação do espectro das formas de automação, com particular ênfase na nova geração de soluções de robótica, passando também pela crescente sensorização dos equipamentos e introdução de novos materiais e nanomateriais. Já no downstream, a incorporação de novas tecnologias digitais permitiu a racionalização e a redução de custos operacionais na linha da Indústria 4.0.

“A tendência atual é o aperfeiçoamento das rotinas de manutenção preditiva. As oportunidades e desafios que emergem da aplicação de inovações e tecnologias no refino incluem a agilidade operacional, a construção de um modelo de gestão de dados e o planejamento e programação de todas as unidades que integram a refinaria de petróleo”, explicou o professor.

Prova concreta de todo o impacto positivo da introdução das tecnologias digitais na indústria brasileira é o Pré-Sal. Segundo José Carlos Tigre, assessor técnico da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o desenvolvimento tecnológico foi e é fundamental para a viabilidade dessa importante região petrolífera do Brasil.

Desafios à frente

Por outro lado, Milton Costa Filho, secretário geral do IBP, lembrou que o Brasil está posicionado em 69º lugar no Global Innovation Index – muito atrás de países como Estados Unidos, Reino Unido, Suíça, Suécia e Holanda, que ocupam as cinco primeiras posições do ranking. “Precisamos discutir a eficácia dos recursos de pesquisa e desenvolvimento da indústria de petróleo que não podem ser usados em startups, por exemplo – o que traria um resultado significativo para o setor”, afirmou Costa Filho.

Eduardo Santos, gerente de relacionamento com a comunidade de C&T do CENPES/Petrobras, compartilha da mesma visão e entende que o acesso às startups é algo que ainda falta ao setor. “O que se quer com a cláusula de P&D não é apenas desenvolver o conhecimento na academia, mas também a nossa indústria através de projetos que alcancem a inovação, gerando um conteúdo local de base tecnológica. Nesse sentido, seria interessante alcançar as startups, que são empresas de base tecnológica, por exemplo”, ressaltou Santos.

Nos últimos 19 anos, foram gastos R$ 12 bilhões em 10 mil projetos de PD&I na indústria de petróleo. Desse total, mil projetos foram focados em infraestrutura e outros 250 em capacitação de recursos humanos. Para José Carlos Tigre é necessário incentivar atividades de pesquisas com níveis de maturidade mais altos, a fim de ter novos produtos no mercado. “Para isso, a ANP já está trabalhando na revisão da agenda regulatória, incluindo o regulamento de PD&I. O objetivo é melhorar o ambiente de negócios do setor e destravar investimentos no curto prazo”, completou.

Entre os desafios à frente, Telmo Ghiorzi, diretor da ABESPetro, apontou a redução dos custos de extração e o aumento do fator de recuperação, o que geraria uma produção maior de óleo – e mais barato – e aumentaria a participação do Brasil na indústria de petróleo mundial.

Segundo Ghiorzi, o Brasil tem bons ingredientes para enfrentar tais desafios e a saída está na formulação e implantação de uma política industrial baseada em inovação. “O Brasil não tem uma política industrial e é essencial que, ao ser criada, seja fundamentada na economia da inovação, visando o longo prazo e focada em perenidade e na robustez do setor”, explicou.

Em um vídeo-apresentação, Eduardo Soriano, coordenador-geral de Desenvolvimento e Inovação em Tecnologias Setoriais do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), defendeu ainda a criação de um programa de recursos humanos de alta capacitação com foco em petróleo e gás, bem como parcerias de cooperação internacionais bem organizadas, como já existe com a Noruega e está em construção com o Reino Unido.