Evento também recebeu o relator da Nova Lei do Gás, o Senador Laercio Oliveira
O Senador Laercio Oliveira, relator da Nova Lei do Gás, destacou em palestra, nesta quinta-feira (11/5), no Seminário de Gás Natural do IBP, a importância do trabalho conjunto desenvolvido por diversos atores do setor para a aprovação da Lei. “O Pró Escoar é um projeto de lei que dá continuidade a muita coisa que trouxemos com a Lei do Gás. De fato, a reinjeção existe. Se é muito ou pouco, não sou eu quem tem que dizer, mas temos que discutir como fazer para que a mais produção do gás possa chegar ao consumidor”. Roberto Ardenghy, presidente do IBP, ressaltou a grande contribuição do Senador Laercio de Oliveira na busca de um mercado de gás mais aberto, competitivo e dinâmico.
No painel “Novos modelos de negócio e criação de valor”, Gisele Neves, Head de Gás da BP Energy, destacou o novo projeto da empresa batizado de “Açu Trucked LNG”, que consiste na construção de uma estação de carregamento de GNL para caminhões que transportarão o GNL a partir do Porto do Açu, possibilitando a entrega do combustível às indústrias que hoje não estão conectadas à malha de gasodutos do sudeste. “A limitada infraestrutura de gasodutos gera a oportunidade de criação desses ‘gasodutos virtuais’ viabilizando demandas não atendidas, gerando escala e permitindo uma futura expansão da rede de gasodutos e conexão destas indústrias, gerando um ciclo virtuoso”.
Aurélio Antônio Ferreira, Diretor de Desenvolvimento da Ultragaz, lembrou que 93% dos municípios do Brasil não têm acesso à rede de gasodutos, mas recebem GLP. Destacou que a Ultragaz tem uma expertise logística com 1,5 milhão de entregas de botijão no país, e conhece as demandas dos clientes, o que é uma vantagem competitiva para quem quer comercializar GNC. Ferreira aposta ainda no biometano para atender os clientes distantes da rede. “Quando olhamos o potencial do biometano e a localização da produção e das fontes de biometano (aterros, indústria sucroalcooleira, agropecuária), observamos que as fontes de oferta estão longe da rede de gasodutos. Assim, uma das formas de destravar a utilização deste biometano é através do GNC. Conectando, portanto, uma produção pulverizada com uma demanda pulverizada”.
Já Nathan Biddle, Diretor e Co-Fundador da Origem Energia, falou da aposta da empresa na estocagem de gás como negócio com grande potencial de crescimento no mercado brasileiro. “Temos que entender que o mercado ainda não existe, mas temos que começar pequeno e ter capacidade de chegar lá. Isso não vai começar da noite para o dia. Em Alagoas, já temos uma infraestrutura existente e vamos estimular o mercado entendendo a demanda de diversos clientes com modelos comerciais diferentes”.
José Roberto Faveret, Sócio do Faveret Tepedino Londres Fraga, disse que a nova lei do gás ofereceu maior segurança jurídica nas para os operadores e investidores interessados em gás natural no país e que a estocagem será fundamental para a abertura do mercado. “Nesse cenário de abertura, a estocagem é vital para a competitividade do mercado. A Nova Lei do Gás criou um novo regime jurídico e isso foi um grande progresso”.
Edmar Almeida, professor do Instituto de Energia da PUC Rio, acredita que a grande vantagem da abertura do mercado é criar valor através da inovação. “Esses três novos modelos de negócio podem ter grande impacto no desenvolvimento do mercado: o GNL a granel, a estocagem e biometano”.
Cynthia Silveira, presidente do Conselho de Óleo e Gás da FIRJAN e moderadora do painel “Potencial de crescimento da demanda de gás: foco na indústria e no transporte rodoviário”, ressaltou a importância de ouvir as indústrias que já usam o gás natural e precisam implementar estratégias de descarbonização de suas atividades. Segundo Silveira, “um estudo do BNDES estima uma demanda de 18 milhões de metros cúbicos de gás por dia para a indústria siderúrgica e, na área de transporte rodoviário, há senso de urgência, já que o país importa cerca de 30% de diesel”.
De acordo com Marcos Prudente, Gerente de Energia e Gás Natural da Gerdau, a indústria enxerga o gás natural como o combustível da transição com inúmeras possibilidades. “Estamos avançando e temos um caminho para aplicação do gás natural na indústria. Como exemplo, parte de nossos altos fornos em Minas Gerais está adaptada para uso de gás natural. Se conseguíssemos preços de gás mais competitivos, poderíamos dobrar o consumo de gás natural nas operações no país”.
O Head de Regulamentação e Homologação da Scania, Daniel Pereira, apresentou a visão do setor automotivo, que vem acompanhando as demandas por produtos mais sustentáveis. Para ele o Brasil é um mercado com grande potencial e a parceria entre diferentes setores é fundamental para a demanda por gás crescer. “O Brasil tem vocação para o gás e, cada vez mais, temos certeza de que fizemos a aposta correta em investir em veículos pesados a gás. Temos 600 veículos comercializados no país e exportamos mais 2 mil para mercados vizinhos, especialmente a Colômbia. A expectativa é, em 2025, atingir 15% de nossa produção de veículos a gás para o mercado local e exportação”.
Já Luiz Antonio Nitschke, Diretor Executivo de Compras da Unigel, empresa do setor químico e de fertilizantes nitrogenados, enfatizou a importância do diálogo com todos os atores da cadeia para que a oferta de gás seja mais competitiva. “Já levamos nossas demandas à ANP, como consumidor de gás materia-prima, para que possamos manter e incrementar a produção de fertilizantes no país. Temos conversado com o governo para influenciar positivamente as politicas, com o objetivo de o mercado de gás progredir”.
A importância de encontrar soluções mais adequadas às demandas do setor elétrico pautou o painel “O papel do gás na geração elétrica no contexto da modernização do setor elétrico”. Para o moderador do painel, Tiago de Barros Correia, CEO da RegE Consultoria, as termelétricas à gás natural já cumprem o papel complementar da energia hidroeletrica e são importantes para garantir a segurança de abastecimento. Porém, apontou as necessidades do futuro. “Vamos precisar de geração com despachos em prazos mais curtos e com maior flexibilidade, dada a maior participação das fontes renováveis (como eólica e solar). Um exemplo seria na prestação de serviços ancilares.”, afirmou Barros.
Existem características críticas de capacidade e flexibilidade que devem ser observadas nesse novo momento da geração de energia elétrica no país destaca Alessandro Cantarino, Superintendente de Regulação dos Serviços de Geração e do Mercado de Energia Elétrica da Agência Nacional de Energia Elétrica, a ANEEL. “A penetração massiva de geração distribuída (micro e mini), faz com que a carga que enxergávamos, no meio da tarde até a ponta noturna, se altere. Traz requisitos de rampa muito mais rápidas.”, explicou. Cantarino também ressaltou que já há movimentos do Ministério de Minas e Energia para entender as formas de contratação de capacidade e de delimitação de quais produtos de flexibilidade são necessários.
Para Christiano Vieira da Silva, Diretor de Operação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o passado nos mostrou a importância de ter um parque termelétrico robusto que fosse complementar. Porém, hoje, a realidade é mais ampla e complexa. “Podemos falar que, agora, temos um parque que é hidro-térmico, eólico e solar, um conjunto disso tudo. O nosso sistema hoje traz um desafio maior que há 25 anos e temos que pensar nas soluções. A descentralização é importante na transição”, pontuou Christiano.
O CEO da EDF Fluminense, Emmanuel Delfosse, reforçou que, no futuro, o setor elétrico precisará de novos produtos vindos do setor de gás. “Acho que não temos soluções únicas, produtos únicos. Temos as termelétricas para atender na questão da sazonalidade e, cada vez mais, há a questão do atendimento da demanda em tempo real. Como podemos compatibilizar esses setores? O setor elétrico demandando muito mais flexibilidade e o setor de gás perdendo sua flexibilidade.”, frisou Emmanuel citando a queda dos volumes de gás da Bolívia.
O compromisso de reduzir as emissões de carbono foi lembrado por Guilherme Perdigão, Diretor de Geração de Energia da Shell Brasil. “Se quisermos manter o aquecimento global abaixo de 1,5ºC, a eletrificação tem que atingir um percentual muito maior do que os 20% de entrega de energia elétrica atualmente. Em nossos cenários, o percentual teria que ser de 50%”, alertou o executivo da Shell. Ele ainda lembrou que o gás exerce papel fundamental na geração elétrica e existe a necessidade de produtos distintos para alinhar a cadeia de suprimentos de gás para ter flexibilidade e oferecer esses produtos ao mercado.